terça-feira, 8 de agosto de 2017

A imprensa com cheiro de tinta


Era 1982 e o pequeno grupo de calouros da Escola de Comunicação e Artes recebeu a incumbência de produzir um cartaz com impressão a quente. Maravilhado, eu olhava aquelas velhas máquinas, que já pareciam saídas de um museu, mas representavam a imprensa - com seu velho charme e sua história, transformadora do mundo.

Havia lá uma veneranda linotipo, que miraculosamente funcionava, e algumas chapas desfalcadas de muitas letras, aquelas peças de chumbo que se monta uma a uma como grandes carimbos. A frase (Nada a dizer num mundo em que ninguém ouve - E NINGUÉM LÊ) era minha, mas a criação foi coletiva, e saiu este cartaz malfeito e torto, com os tipos que havia.

Meu primeiro trabalho literalmente de imprensa, colocado aqui na #casadoescritor ao lado de outro achado - tipos de madeira, no seu encaixe, que encontrei na feira de antiguidades de Notting Hill. 

Para minha surpresa, há pouco tempo, vi uma linotipo restaurada como nova, assim como outras máquinas antigas perfeitamente funcionais, na charmosa e miraculosa oficina de impressão do @marcocançado, nas Perdizes. Há ainda uma certa aura nas coisas feitas à maneira antiga. Marco fez para mim alguns cartões de visita, e eles me lembram o tempo em que tudo dava mais trabalho, mas saía de um jeito incomparável, porque com um um cuidado que dava o valor do artesão a tudo o que se fazia.

Um simples cartaz era uma forma de arte: um valor cada vez maior nestes tempos de imediatismo virtual, em que tudo tem de surgir num piscar de olhos, ou ao clique de um botão. Essas máquinas me lembram que o tempo nos dá rugas, cria calos, produz marcas. E essa história que a gente carrega, com o jeito de fazer, o dedo sujo de tinta, a nossa impressão, que de nós vai ao papel e do papel sai para o tempo, é que faz tudo valer a pena.

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